Uma estreia que não empolgou como esperado
Se você está animado com Death Stranding 2: On the Beach, eu também estou. Mas um conselho: não perca tempo assistindo ao evento de estreia realizado ontem no Orpheum Theatre, em Los Angeles. Apresentado pelo amigo de longa data de Hideo Kojima, Geoff Keighley, o evento contou com atores e membros da equipe do jogo exaltando o "gênio" de Kojima e o quão especial é fazer parte dessa produção. Para mim, o efeito foi exatamente o contrário do esperado.
Talvez seja o britânico cético em mim falando, mas essa adoração constante já cansou. Sou fã dos jogos de Kojima e acredito que ele é um dos maiores criadores que o mundo dos games já viu, mas essa aura de "auteur" e a disposição de outros em reforçá-la já me soa desgastada.
O que o evento realmente mostrou?
O evento teve cerca de 20 minutos de gameplay e mais de uma hora de discursos exaltando Death Stranding 2. No entanto, não revelou praticamente nada de novo sobre os temas ou ideias centrais do jogo que já não fossem conhecidos. Ao focar demais nas cutscenes e nas exigências de Kojima para o elenco e equipe, o jogo acabou parecendo uma sequência mais simples e menos empolgante do que eu esperava.
Vimos a missão inicial, onde Sam precisa voltar à base com Lou, agora um bebê. Kojima destacou a trilha sonora dinâmica, que muda conforme a forma como Sam atravessa a paisagem deslumbrante. Também vimos Sam acalmando Lou, uma cena que poderia muito bem estar no primeiro jogo.
"É um jogo de entregas, quero mostrar o processo de entrega, mas você pode se entediar", disse Kojima, via tradutor. Geoff Keighley acrescentou que "as entregas são tão bonitas, tão incríveis".
Cutscenes e personagens: o que realmente importa?
Uma cutscene com a personagem Tomorrow, interpretada por Elle Fanning, chamou atenção pelo detalhamento — alguém na Kojima Productions gastou muito tempo escaneando os pés da atriz. Tomorrow tem poderes que envolvem tirar os sapatos e se transformar em uma espécie de entidade de piche, atacando soldados enquanto Sam observa. Visualmente interessante, mas não é esse tipo de cena wuxia que me faz amar os jogos de Kojima.

Também vimos uma luta contra um chefe inicial, com o personagem Neil, que lembra bastante o Solid Snake. A batalha teve efeitos visuais impressionantes, com fogos de artifício e Neil se teletransportando com seus soldados. Quem jogou o primeiro jogo vai reconhecer a semelhança com as lutas contra Cliff.
Novidades mostradas incluem o uso de um canhão de piche, que serve tanto para atacar quanto para apagar incêndios, além de armas como bumerangue de sangue, pistola granada e granadas de fumaça. Ah, e agora dá para usar bonés virados para trás — um detalhe curioso, não?
O hype exagerado e suas consequências
O painel contou com Kojima, Keighley, Troy Baker (que interpreta Higgs), Shioli Kutsuna (Rainy), o compositor Woodkid, e uma mensagem em vídeo de Elle Fanning. O evento terminou com uma espécie de "love-in" dos atores, todos exaltando o "gênio" de Kojima e dizendo coisas como "Hideo realmente entende o que passamos como atores".
Eu até acredito nisso, mas já estou cansado desse tipo de bajulação. Não acho que os jogos de Kojima precisem dessa abordagem tão melosa.
Sei que parece coisa de "velho reclamão" reclamar de um evento que só quer promover o novo jogo de Kojima, com pessoas falando o quanto o jogo será incrível e o quanto é um privilégio trabalhar com ele. Mas essa deificação dos criadores não me convence, e, estranhamente, terminei a transmissão menos empolgado com Death Stranding 2 do que no começo.
Claro que vou jogar, mas fico intrigado como um evento com o maior hype man da indústria e um dos meus criadores favoritos conseguiu diminuir minhas expectativas ao invés de aumentá-las.
O desafio de equilibrar arte e marketing
É curioso pensar como a indústria dos games, especialmente em produções de grande orçamento, precisa navegar entre a arte e o marketing. Kojima é um mestre em criar experiências únicas, mas o evento de ontem parecia mais uma celebração do mito do que uma verdadeira imersão no jogo. Isso levanta uma questão: até que ponto a narrativa em torno do criador pode prejudicar a percepção do produto final?
Em minha experiência, quando um jogo é apresentado com tanta reverência, o público acaba esperando algo quase transcendental. E aí, quando o conteúdo não entrega essa grandiosidade, a decepção bate forte. Não que Death Stranding 2 não tenha potencial — longe disso — mas o excesso de bajulação cria uma pressão desnecessária.
Além disso, o foco quase exclusivo nas cutscenes e no elenco pode afastar jogadores que buscam entender a mecânica e a inovação do gameplay. Afinal, o que realmente faz um jogo ser memorável não são apenas as atuações ou a direção artística, mas como tudo isso se traduz em uma experiência interativa envolvente.
Gameplay: inovação ou repetição?
O que me deixou mais intrigado foi a aparente repetição de conceitos do primeiro jogo. A ideia de entregar pacotes, cuidar do bebê Lou e atravessar paisagens desoladas é familiar demais. Claro, a promessa de uma trilha sonora dinâmica e o uso de novas armas e ferramentas são pontos positivos, mas será que isso basta para justificar uma sequência?
Por exemplo, o canhão de piche é uma adição interessante, trazendo uma dualidade entre ataque e defesa, mas não ficou claro se essa mecânica será explorada de forma profunda ou apenas um artifício visual. O mesmo vale para as armas como o bumerangue de sangue — parece mais um truque estiloso do que uma inovação real na jogabilidade.
Também fiquei pensando: Kojima sempre foi conhecido por desafiar as convenções, misturando gêneros e criando experiências que fogem do comum. Será que Death Stranding 2 vai conseguir manter essa tradição ou está caminhando para um terreno mais seguro e previsível?
O papel dos atores e a narrativa cinematográfica
Não dá para negar que o elenco é um dos pontos fortes do jogo. Troy Baker, Elle Fanning, Shioli Kutsuna e outros trazem uma qualidade de atuação rara em games. Mas será que essa ênfase na narrativa cinematográfica não acaba prejudicando a fluidez do jogo?
Em alguns momentos, parece que estamos assistindo a um filme interativo, com longas cutscenes que interrompem o ritmo. Para jogadores que preferem ação e exploração, isso pode ser frustrante. Por outro lado, fãs da narrativa profunda e do estilo único de Kojima certamente vão apreciar esses momentos.
É um equilíbrio delicado, e só o tempo dirá se essa aposta vai funcionar. Eu, pessoalmente, espero que o jogo encontre um meio-termo que agrade tanto os fãs de histórias complexas quanto os que buscam diversão e desafio.
Expectativas versus realidade: o que esperar do lançamento?
Com o lançamento se aproximando, a ansiedade cresce, mas também a cautela. Eventos como o de ontem mostram que o hype pode ser uma faca de dois gumes. Por um lado, cria uma base sólida de fãs ansiosos; por outro, pode gerar expectativas tão altas que o jogo não consiga alcançá-las.
Será que Death Stranding 2 vai surpreender com mecânicas inovadoras e uma narrativa envolvente, ou será apenas uma continuação segura, que repete fórmulas já testadas? A resposta está nas mãos de Kojima e sua equipe, que têm a difícil missão de equilibrar a visão artística com as demandas do mercado.
Enquanto isso, resta aos jogadores aguardar, especular e, claro, preparar os controles para mais uma jornada pelo universo peculiar e fascinante criado por Hideo Kojima.
Com informações do: PC Gamer